Será preciso que PIB cresça 8% ao ano nos próximos dez anos para cumprir
A meta apresentada pela presidente Dilma Rousseff, na sexta-feira passada, de dobrar o PIB per capita até 2022 foi considerada irrealista por economistas consultados pelo GLOBO. Para cumprir a promessa da presidente, o Brasil precisará ter um crescimento médio de 8% do PIB ao ano nos próximos dez anos. A previsão dos especialistas é que a população cresça em torno de 0,8% ao ano.
As projeções parecem muito ambiciosas se levadas em conta as mais recentes projeções de analistas do mercado financeiro. Segundo o último Boletim Focus, do Banco Central, a economia brasileira deve crescer 3% em 2013. No ano passado, o PIB brasileiro subiu apenas 0,9%.
Durante discurso a prefeitos e empresários gaúchos na semana passada, Dilma não citou projeções. No entanto, desde o pós-guerra, o país nunca conseguiu dobrar sua renda per capita. Em 2012, essa renda somou R$ 22.400 ou US$ 11.303, a um câmbio de R$ 1,98.
A renda por habitante teve uma evolução praticamente imperceptível entre 2011 e 2012 — nos dois primeiros anos do mandato da presidente — com um crescimento de apenas 0,1%. Na década de 70, quando o cenário era outro — época do milagre econômico — e o crescimento demográfico era mais acelerado, de cerca de 3%, a renda per capita brasileira subiu 5,8% ao ano, lembra o economista Luiz Carlos Prado, do Instituto de Economia da UFRJ. Hoje, os investimentos são o principal entrave. A taxa de investimentos da economia brasileira atingiu 18,1% do Produto Interno Bruto em 2012, segundo o IBGE.
— É praticamente impossível. Temos que crescer muito a produtividade — afirma o economista. — Seria viável ter um crescimento de 4,4% da renda per capita ao ano, mas para isso, seria preciso crescer a 5% ao ano. É difícil, mas já não seria impossível — acrescenta.
China multiplicou renda por 19 vezes em 35 anos
Não há como o país crescer a taxas tão vigorosas sem esbarrar em gargalos de infraestrutura e inflação, avalia o economista Felipe Queiroz, da Austin Rating. Ele lembra que o crescimento de 7,5% em 2010 se seguiu a um crescimento bem menor de 2,7%, em 2011 e de 0,9% em 2012 e em um contexto de inflação em níveis desconfortáveis.
— Hoje não temos infraestrutura que comporte um crescimento tão forte e que acaba gerando inflação. Vamos ter outro voo de galinha se não conseguirmos ampliar os investimentos. Não é possível crescer esse tanto somente baseado no consumo das famílias — afirma.
Se para o Brasil, conseguir dobrar a renda per capita é uma tarefa praticamente impossível, internacionalmente, há países que já conseguiram. É o caso da China que entre 1977 e 2012, conseguiu multiplicar em 18,8 vezes a renda per capita, pelas contas do economista Joaquim Elói Cirne de Toledo. Segundo ele, a taxa média anual de crescimento do PIB per capita chinesa foi de 8,74% nesses 35 anos. Os dados de 2012 ainda são preliminares.
— A China tem uma taxa de investimento imensa, a nossa não ultrapassa 18,5% é outro país. Nós acabamos esbarrando em vários gargalos — afirma o economista Cirne de Toledo.
Para o professor da PUC-SP Antonio Corrêa de Lacerda, dobrar o PIB per capita não é impossível em um horizonte mais longo, de 20 anos, com um crescimento da renda por habitante de cerca de 4% ao ano. No entanto, ele frisa que para obter o aumento da renda per capita de maneira sustentável, o país precisa combater a falta de competitividade para aumentar sua taxa de investimento:
— Vejo que o Brasil tem potencial de crescer em dez anos, mas apostaria num crescimento (do PIB per capita) de 4% ao ano. Se aumentar a taxa de investimento isso por si só tem efeito multiplicador sobre o PIB. O Brasil tem um déficit crônico de competitividade e isso tem prejudicado muito o crescimento do país .
Para cumprir o que a presidente prometeu, seria preciso o PIB per capita crescer 7,19% ao ano.
Fonte: oglobo
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