Dois pacientes com HIV foram identificados como livres da infecção após passarem por transplante de medula para tratar um câncer sanguíneo, segundo anúncio nesta quarta-feira em uma conferência internacional sobre Aids. O tratamento que permitiu aos pacientes abandonar a medicação contra o HIV foi realizado em Boston, nos Estados Unidos.
O resultado lembra o caso conhecido como "o paciente de Berlim". Timothy Ray Brown recebeu o transplante de medula de um doador com uma rara mutação que oferece resistência ao HIV e não apresentou sinais da infecção mesmo cinco anos após o tratamento.
Segundo os pesquisadores, os casos de Boston, assim como o de Brown, não representam uma alternativa para os 34 milhões de pessoas com HIV. O tratamento só foi possível devido ao câncer sanguíneo dos pacientes, que tiveram acesso a hospitais com os recursos avançados necessários para realizar esse tipo de transplante.
Segundo a presidente da Sociedade Internacional da Aids e pesquisadora responsável pela descoberta do vírus HIV, Françoise Barré-Sinoussi, as descobertas de Boston são "muito interessantes e encorajadoras". O anúncio dos casos foi feito na conferência anual da entidade, em Kuala Lumpur, na Malásia.
Médicos do Brigham and Women's Hospital, onde os tratamentos foram realizados, evitam falar em cura. A técnica utilizada envolve um enfraquecimento do sistema imunológico antes do transplante da medula óssea. Esse procedimento pode ser fatal em até 20% dos casos. "Não podemos falar em cura, o acompanhamento dos pacientes [após o tratamento] ainda é muito curto", explicou ainda uma das médicas responsáveis.
Os médicos explicam que após o transplante as novas células atacam as células antigas do paciente em um processo que pode durar nove meses e, sem controle, pode ser fatal. Os pacientes de Boston usaram imunossupressores e esteroides e continuaram com a medicação contra o HIV para que o vírus não se reproduzisse. Como as células antigas, onde o vírus se aloja, foram eliminadas, os especialistas acreditam que os pacientes podem ter se livrado completamente da infecção.
Segundo os médicos, seria antiético fazer o tratamento em pacientes que não estivessem em estado crítico, especialmente porque a maioria das pessoas com HIV pode levar uma vida praticamente normal fazendo uso de medicamentos.
Um dos pacientes abandonou os remédios contra o HIV há sete semanas. O outro está sem medicação há 15 semanas. Nenhum traço do vírus foi encontrado em seus sistemas imunológicos desde então. Em casos normais de abandono dos antirretrovirais, o vírus volta a aparecer em menos de um mês, mas o período pode variar dependendo do paciente. "Pode voltar em uma ou seis semanas", explica Timothy Henrich, médico responsável pelos pacientes de Boston. "Só o tempo dirá", acrescenta.
Fonte: "NEW YORK TIMES"
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