sexta-feira, 12 de julho de 2013

Reformar ministério pode ampliar risco político para Dilma, dizem fontes


A receita normalmente prescrita para crises de governabilidade como a que atravessa a presidente Dilma Rousseff seria amarga, na avaliação de fontes do Palácio do Planalto. Mexer na equipe do seu governo, trocando peças-chave e enxugando o quadro, como sugerem partidários e críticos, poderia incendiar ainda mais os ânimos.
Dilma vive seus piores dias na Presidência com popularidade em queda, pressionada pelos protestos populares, com influência limitada no Congresso e expectativas econômicas cada vez mais deterioradas.

Uma saída para a presidente, na avaliação das fontes, seria fazer uma grande reforma no seu gabinete, reduzindo o número de pastas, substituindo inclusive integrantes da área econômica e da articulação política. Contudo, essa solução também teria consequências políticas imprevisíveis, na avaliação dessas fontes ouvidas pela Reuters.
As especulações crescentes sobre mudanças no primeiro escalão já obrigaram a presidente a emitir nota oficial negando que esteja pensando em reforma ministerial. Mesmo depois da nota, os ministros da Fazenda, Guido Mantega, e das Relações Institucionais, Ideli Salvatti, continuaram sendo alvo de uma suposta reforma.
Para uma dessas fontes, há problemas em todas as frentes, na relação com a área social, no Congresso, na economia real e nas expectativas do mercado.
"Dez em cada dez governantes fazem mudanças na equipe quando o quadro é esse", avaliou a fonte, que pediu para não ter seu nome revelado.
Tal medida, contudo, deixaria a presidente mais isolada, segundo uma outra fonte, mas poderia ter menos custos políticos se ocorresse no final do ano, quando muitos deixariam o ministério para disputar eleições estaduais.
"Se ela faz isso, haverá ainda mais aliados descontentes no Congresso, porque um ou outro ministro foi desalojado", disse. "Nesse momento há muitas interrogações e poucas certezas no governo."
Adiar a reforma por uns meses, argumentou essa fonte, permitiria inclusive cortar drasticamente o número de pastas e rebater o discurso da oposição de que a máquina petista é "inchada e ineficiente".
Dilma herdou o governo com 37 ministérios e ampliou o número de pastas para 39, criando as secretarias da Micro e Pequena Empresa e da Aviação Civil.
A popularidade da equipe econômica de Dilma junto ao mercado pode ser comparada à sua. Os analistas econômicos desconfiam de todas as previsões do governo em relação ao equilíbrio fiscal e ao combate à inflação.
A área econômica tem prometido um esforço fiscal adicional de aproximadamente 15 bilhões de reais para cumprir a meta de superávit primário de 2,3 por cento do PIB neste ano e o Banco Central tem elevado a taxa básica de juros para conter a alta da inflação, que em 12 meses está em 6,70 por cento de acordo com o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), a maior desde outubro de 2011 e acima do teto da meta do governo.
Essa falta de confiança no mercado preocupa muito a presidente. "Nós apostamos tudo nas concessões no segundo semestre. E isso depende fundamentalmente das expectativas do mercado", disse a primeira fonte do governo ouvida pela Reuters.
O governo concederá à iniciativa privada dezenas de obras em ferrovias, rodovias, portos e aeroportos no segundo semestre.
Por isso, na avaliação desse auxiliar, uma troca da equipe econômica poderia ajudar no sentido de recuperar parte das expectativas do mercado. Ele afirma, porém, que não há qualquer indicativo claro de que a presidente está trabalhando para trocas imediatas nos ministérios da área.
Já mudanças nas pastas que fazem a conexão do governo com os movimentos sociais não teria um efeito tão direto.
Nesse caso, Dilma é que tem que abrir os canais de diálogo diretamente.
A presidente tem se esforçado para se reaproximar dos movimentos sociais organizados, depois de evitar encontros com sindicatos e entidades representativas nos dois primeiros anos de sua gestão. Desde o início da onde de protestos em todo o país no mês passado, Dilma já se reuniu com representantes dos trabalhadores rurais, do Movimento Passe Livre, das centrais sindicais e de indígenas.
CONGRESSO
Já os problemas com a base aliada no Congresso, em especial na Câmara dos Deputados, se intensificaram desde o começo do ano e ganharam contornos perigosos para a governabilidade desde os protestos que espalharam pelos país em junho.
A reação de Dilma às manifestações populares jogando pressão sobre o Legislativo, cobrando a aprovação de suas propostas ou mesmo propondo uma controversa reforma política por meio de um plebiscito pioraram sensivelmente o diálogo com o Congresso.
"É fato que há uma base conflagrada na Câmara, mas o Senado tem sido o avalista da governabilidade", disse à Reuters o líder do governo no Senado, Eduardo Braga (PMDB-AM), acrescentando, porém, que não vê uma crise de governabilidade.
Mas há gente dentro do governo que traça um cenário bem mais sombrio. Uma das fontes ouvidas pela Reuters disse que "se não tivermos uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) contra o governo e conseguirmos votar medidas provisórias até o final do mandato, já estará ótimo".
Desde os protestos, Dilma lançou a proposta de reforma política via plebiscito, considerada inviável pela Câmara, e pressionou pela aprovação de um projeto que destina royalties de petróleo para educação. Os deputados modificaram a proposta original, repartindo essa receita também para a saúde, e ainda não a aprovaram.
A solução para a péssima relação com o Congresso, na avaliação das fontes, é difícil.

"Eu acho que é como uma taça de cristal que quebrou. Pode até colar e restaurar, mas nunca mais será como antes", disse uma das fontes.

Por Jeferson Ribeiro da Reuters

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